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Domínio Atendimento

Assuste-se: juros atingem 1.418%

Levantamento feito pelo BC e disponível para a consulta dos consumidores mostra uma série de abusos dos bancos na cobrança de encargos financeiros. Diferença entre as taxas chega a 25 vezes

Fonte: Correio Braziliense

 

Os brasileiros que precisarem de crédito para honrar uma despesa inesperada com saúde ou se aventurarem a comprar um produto a prazo correm o risco de se meterem em uma grande enrascada se não fizerem um amplo levantamento das taxas de juros. Pesquisa divulgada ontem pelo BC mostra que, no crédito pessoal, a diferença entre as taxas mínimas e máximas chega a 24,9 vezes. Ou seja, tanto se pode pagar juros de 1,02% ao mês, cobrados pelo banco francês Societé Générale, como arcar com taxas absurdas de 25,44% mensais exigidas pelo Banco Crefisa.

Só para se ter uma idéia mais clara dessa diferença, quando anualizada, a taxa do banco francês fica em 12,95% e a do Crefisa, em 1.418%. Supondo que uma pessoa tenha recorrido ao Societé Générale em busca de um empréstimo de R$ 2 mil, assumiria 12 prestações de $ 177,92, desembolsando, ao fim do contrato, R$ 2.135. Caso a mesma pessoa recorresse ao Crefisa, teria de arcar com mensalidades de R$ 544,68, resultando em um total de R$ 6.536,22. “Taxa de 25% ao mês é um abuso, nem mesmo os agiotas cobram isso”, disse um técnico do BC.

Mas o Banco Carrefour não fica atrás. A taxa cobrada por empréstimos concedidos pela instituição dentro da rede de supermercados do grupo chega a 25,14% ao mês ou 1.375% ao ano. Por meio de sua assessoria de imprensa, o Carrefour se limitou a dizer que “suas taxas seguem a média cobrada no mercado de varejo”. O Correio tentou contato com o Banco Crefisa, mas não teve retorno. O Societé Générale disse que a taxa de 1,02% só vale para empréstimos pessoais concedidos a seus funcionários.

O levantamento do BC, com taxas vigentes até 23 de janeiro, mostra abusos por todos os lados. O trabalhador que quiser se dar o luxo de comprar em 12 vezes uma televisão de 32 polegadas com tela plana que, à vista, sairia por R$ 1.499, terá de bancar prestações mensais de R$ 232,54 (totalizando R$ 2.790,48) caso a financeira escolhida seja a Itaucred. Os juros cobrados pela instituição chegam a 11,15% ao mês ou 255,56% anuais. Nesse segmento, conhecido como crédito direto ao consumidor (CDC), as menores taxas são praticadas por bancos desconhecidos da maioria ou com foco específico, como são os casos do Volkswagen, com taxa de 0,66% ao mês, e o Ouroinvest, com 1,01%.

Concorrência
Outro dado relevante constatado na pesquisa do BC: ao contrário do que se pensava, os juros mais elevados não estão no cheque especial, apesar de não se poder dizer que os 10,13% mensais cobrados pelo Banco Schahin ou os 10,02% ao mês do Banco HSBC sejam acessíveis — muito pelo contrário. E mais: ainda que não se considerem os mais recentes cortes de juros feitos pelos bancos públicos, por determinação do presidente Lula, o BB e a Caixa cobram taxas menores que a média do mercado. No crédito pessoal, por exemplo, os juros da Caixa são de 2,60% ao mês, quase a metade dos 5,27% do Bradesco. No cheque especial, os 8,04% mensais do BB estão distantes dos 9,90% do Santander e dos 9,32% do Citibank.

Segundo o diretor de Administração do BC, Anthero Meirelles, a decisão de publicar no site www.bcb.gov.br a relação das principais taxas de juros cobradas visa ampliar a concorrência, estimular a redução dos juros e facilitar o acesso às informações. Ele explicou que os dados, agora em destaque, já estavam disponíveis no site, só que eram difíceis de serem encontrados pelo público. Agora, bastam três cliques para se chegar às informações desejadas. Para cada tipo de operação de crédito listada é fornecida a taxa média praticada no mês. Os dados serão atualizados semanalmente.

Interesse
Ontem, primeiro dia do novo modelo, foram mais de 8 mil acessos às informações. Para as pessoas físicas, por exemplo, o BC colocou em destaque as quatro operações mais demandadas: cheque especial, crédito pessoal, crédito para a aquisição de veículos e crédito para a aquisição de bens (CDC). Para as empresas, foram escolhidas as operações de desconto de duplicatas, capital de giro prefixado, conta garantida (espécie de cheque especial), aquisição de bens e capital de giro.

O diretor do BC destacou que, ao procurar as informações, as pessoas têm que ter em mente que as taxas englobam todos os custos da operação, incluindo o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), que compõe o famoso Custo Efetivo da Operação (CET). Os dados consideram ainda o número de dias úteis do mês e também o volume de operações.

ALTAS E BAIXAS
Saiba quais são os bancos que cobram as maiores e as menores taxas de juros do mercado para os principais produtos procurados pelos clientes bancários ( em % por mês)

CHEQUE ESPECIAL
 

  • Menores
    Cruzeiro do Sul — 1,97%
    Votorantim — 2,01%
    Fator — 2,31%
  • Maiores
    Schahin — 10,13%
    HSBC — 10,02%
    Santander — 9,90%

    CRÉDITO PESSOAL
  • Menores
    Societé Générale* — 1,02%
    Barigui — 1,69%
    Sul Financeira — 1,70%
  • Maiores
    Crefisa — 25,44%.
    Carrefour — 25,14%.
    Cetelem Brasil — 20,38%.

    COMPRA DE VEÍCULOS
  • Menores
    Gmac — 1,49%
    Renaut do Brasil — 1,66%
    Fidis Inv — 1,82%
  • Maiores
    Barigui — 5,27%
    Cifra — 4,87%
    Sul Financeira — 4,50%

    COMPRA DE BENS
  • Menores
    Volkswagen — 0,66%
    Ourinvest — 1,01%
    Banco Desenvolvimento do Espírito Santo — 1,13%
  • Maiores
    IBI — 10,18%
    Azteca do Brasil — 8,83%
    Paraná Banco — 8,25%

    Fonte: BC

    * A taxa do Societé Générale só vale para os funcionários do próprio banco.